segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Brenna

Uma história escrita a um bom tempo atrás que encontrei perdida no computador
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O delírio é fúnebre, diz Brenna para si mesma em suas blasfêmias solitárias e sem nexo, é assim toda vez, uns copos de algumas bebidas com seus falsos amigos e já está lá, soltando tudo que tem para falar, esse é apenas o início, o pior é depois, quando sozinha a raiva assola.
Raiva, que mesmo impulsionada para a vida, ainda traz os vestígios insanos, simplesmente porque não há razão para ser diferente, a lembrança de tudo o que já fez vem a tona, mas as tristes, as que realmente gostaria de esquecer martelam na cabeça, regressam, como algo que acabara de acontecer.
- Maldito gato que mia – Seu único companheiro (gato) é amaldiçoado nesse momento
A tentativa de esquecer os atos frustrantes que já fizera não da certo
- Pare, pare, pare, por favor, cabeça, não quero pensar nisso, não quero, me deixa em paz, pensar me deixa imune ao fracasso.
O desespero surge mais uma vez, mente doentia, servidora do fracasso, o silêncio perturba mais ainda a jovem Brenna que sempre esteve fadada a ouvir coisas além de sua própria voz e seus barulhos rotineiros. O barulho da música que agora coloca, faz jus a sua face desesperada e da voz a sua agonia.
Morte = delírio da paz eterna
Vida = Ilusão não modificada
Porém, a contestação de ambos cria o que somos hoje, existência ingrata e suicida.
Complexo existencial mal intencionado.
Sangue na pele de Brenna logo se vê, é desta forma que ela descarrega o seu emocional, sua lâmina vira uma confidente das marcas que amanhã terá que esconder em baixa das camadas de roupas....
O sangue jorra como um motivo ironicamente supérfluo de que ainda vive, o riso que solta é banal e sem graça, fruto de sua mascara não tragada.
Porém a dor que sente das lembranças ganha daquela que acabara se infligir e isso aumenta a crucificação de seu juízo...
- Será que eu deveria atirar-me de um prédio, tomar um banho gelado, deitar-me no chão esperando adormecer? - “ahahha, criança, não irá dormir, sabe bem disso”- Quebrar o espelho? – “Isso, faça isso, será melhor não ver sua imagem decadente refletida no vidro e irá ter mais do elixir vermelho que tanto gosta.”
Obedecendo a sua consciência imperfeita, Brenna se põe a quebrar todos os espelhos da casa, do quarto, do banheiro, da sala, qualquer coisa que reflete é quebrado com suas mãos, que agora pingam sangue, tingindo-se de vermelho vivo,....
A casa é revirada, tal qual um assalto rotineiro, mesmo que a única coisa que seja roubada é consciência.
Seu corpo cai ao chão, inconsciente, perda de sangue e cortes profundos é a definição.
O visual que fica na casa nesse momento é um grotesco cenário, móveis jogados, corpo inerte, sangue para todo o lado dos aposentos são a composição. E o corpo? Bem esse cria um aspecto doentio, porém fascinante junto com o ruído estridente do gato preso na casa, única vida existencial naquela casa completa de agonia.
Brenna não se dera conta antes, que sempre procurava a morte a seus trejeitos, de sua própria forma, pois já não queria a vida que antes tinha. O que realmente queria era a morte, destino de todos que estão na terra, tentara em sua busca apoderar-se da gratidão da existência, porém sempre querendo trocar o incerteza daquela crua servidão por algo que já era seu.

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